Anatomia De Uma Queda
‘Anatomia de uma Queda’ é o novo filme francês dirigido e escrito por Justine Triet. Muito comentado no final de 2023, ele chega forte nessa temporada de premiações. Nesse início de ano, já venceu como Melhor Filme em Língua Estrangeira no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards, além de ter ganho como Melhor Roteiro no Globo de Ouro. Justine já disse também que o papel foi escrito especialmente para Sandra Hüller, repetindo a dobradinha entre as duas após Sibyl (2019). Com certeza essa obra já é um dos grandes destaques desse início de 2024.
Sinopse: “Durante o último ano, Sandra, uma escritora alemã, e Samuel, seu marido francês, viveram juntos com Daniel, o filho de 11 anos do casal, em uma pequena e isolada cidade nos Alpes. Quando Samuel é encontrado morto, a polícia passa a tratar o caso como um suposto homicídio, e Sandra se torna a principal suspeita.”
A melhor forma de começar esse texto é falando justamente sobre o roteiro, que é o grande destaque. Justine Triet ao lado de Arthur Harari (Onoda – 10 Mil Noites na Selva) conseguiram fazer um grande emaranhado de diálogos simplesmente brilhantes. Todo detalhe conta e ele possui inúmeras camadas, que pode fazer com que a descasquemos durantes dias, ou até mesmo semanas, quiçá meses. Tudo é muito bem alinhado e tudo cabe a um propósito narrativo a ponto de nada ser desperdiçado.
Todo esse exaltamento é possível ver quando começa o julgamento, que para mim é o grande ponto alto do filme. Ver promotor e defesa trabalhando é simplesmente magnífico. Nesse momento é que começa também um jogo de perspectiva que vai deixar todos nós em dúvida sobre o que realmente aconteceu. Até então, estamos do lado da nossa protagonista, mas no julgamento somos colocados como jurados e a dúvida começa a permear na nossa cabeça. Essa mulher realmente matou o marido? Foi um acidente? Ele se matou? Que dúvida cruel e maravilhosa para o público se indagar de minuto a minuto.
Dito isso, é interessante que eu pontue algo. Esse longa não é um filme de suspense ou mistério, ele é um drama criminal em que boa parte dele se passa dentro de um tribunal. Uma confusão com esse sentido pode ser criada, e vale esse aviso. Como o roteiro é sua grande linha principal, muito é se falado e se não estiver prestando atenção, acabará achando o filme chato e desinteressante justamente por não ser tão dinâmico como a nova geração “tik tok’”gosta. Isso seria um crime ao meu ver.
Sandra Hüller está excelente no papel e vem fazendo jus as suas indicações nas premiações. Quando estamos vendo tudo por sua perspectiva, se torna impossível duvidar dessa mulher. Ela é íntegra e nos passa toda essa confiança. Quando é confrontada, uma calma se apossa dela, e conseguimos de novo ficar do lado de sua personagem, até mesmo nos momentos mais difíceis em que é colocada contra a parede. Embora seja a protagonista e esse roteiro tenha sido escrito para ela, quem consegue brilhar mais ainda é Milo Machado Graner (Mais que Amigos: Vizinhos), o menino que faz o seu filho na trama. Que criança espetacular e com uma atuação gigantesca. Chora como ninguém e nos passa toda a dor pelo o que está passando. Vale ainda mencionar o cachorro que consegue passar uma atuação melhor que muitos por aí. Quem ver vai entender.
E afinal, a mulher matou mesmo o marido? Essa resposta vou deixar para você, mas fica claro que a resposta não tão é simples. Temos um desfecho bem claro, porém, temos um suspense final que nos deixa com uma pulga atrás da orelha. Esse detalhe final é que nos faz acreditar que realmente vimos uma obra excelente. Com seus 131 minutos de duração, nos fica claro que esse é sim um dos maiores nomes desse início de ano. Isso deixa o cinéfilo aqui muito feliz.