As Faces de Bond

Uma cena de ação inacreditável, um homem descendo de esqui por um desfiladeiro mortal enquanto desvia de balas. Um homem que desce de um avião em movimento, ainda não sabemos quem é. Queda livre, para impedir sua morte a não ser um paraquedas que se abre nos últimos segundos, nele a opulenta bandeira da Inglaterra. Acordes inconfundíveis, um tiro com estiloso movimento característico de perna, de repente o sangue que invade a tela e se inicia uma canção. Em cada ano uma diferente. Em comum? Todas prontas para o sucesso. Close em uma porta que se abre lentamente, close em outra, fechada, vermelha. De repente um chapéu é jogado em um cabideiro. Não estamos lá para sentir, mas Senhorita Moneypenny nos mostra em seu olhar que um cheiro inebriante invade a sala. Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan, Daniel Craig e mais quem estiver por vir. Todos no público querem sê-lo ou tê-lo. Seu nome é Bond, James Bond.

 

Em 1952, Ian Flaming lançava seu primeiro livro narrando as aventuras de James Bond. Flaming era um rebelde de família rica, mulherengo incorrigível apesar de fugir do padrão de beleza da época, foi recrutado pela inteligência britânica durante a segunda guerra mundial por sua inteligência e perspicácia. Mesmo sem ter feito carreira militar chegou ao posto de almirante. Com sua “aposentadoria” virou escritor de sucesso, Bond era inspirado em si mesmo e ao mesmo tempo, o homem que Flaming queria ser.

Em 1962 James Bond ganhava vida em tela na pele de Sean Conery no filme “007 Contra o Satânico Dr. No”.  A atriz Ursula Andress foi a primeira bond girl, termo que se espalharia em massa pelo mundo. Andress, com seu corpo escultural para os padrões da época saia do mar lentamente com seu biquíni branco e um ar pueril. Desde este momento criou-se um legado, em todos os filmes encontram-se mulheres belíssimas, cada uma ao padrão de sua época. Do primeiro filme para cá muita coisa mudou, bond girls deixaram de ser enfeites e sex symbol para gradativamente se tornarem mulheres fortes, vilãs astutas ou agentes especializadas tão capazes quanto o próprio Bond ou até mais. Como é o caso da Personagem de Michelle Yeoh em “007 O Amanhã Nunca Morre” (1997) protagonizado por Pierce Brosnam.

Sean Conery encarnava um sedutor agente 007 que nunca perdia a calma, estava sempre no controle da situação. Cabelo impecável, sem um fio fora do lugar, modos aristocráticos nunca vistos antes ou depois em tela e beleza adônica para os padrões da época. Depois de 5 filmes, já cansado, Conery deixaria de ser Bond. Os produtores desesperados não queriam perder a lucrativa franquia, o jeito era recrutar um outro agente 007 e o trabalho caiu em George Lazenby com o filme “007 A Serviço Secreto de Sua Majestade”. Lanzenby apesar de bastante apresentável não conquistou o público como Conery, seu 007 era mais romântico, chegando ao ponto de se casar. Infelizmente, o público não comprou a história de um Bond não mulherengo e nem tão carismático, era necessário um Bond como o anterior. O próximo filme foi novamente estrelado por Conery, já calvo utilizando peruca. O astro aceitou fazer um último e só, “Os Diamantes São Eternos” em 1971. Conery disse que NUNCA MAIS seria James Bond. Passados 12 anos, Conery voltou a ser Bond, dessa vez o filme foi feito por outro estúdio e outra produtora, e ironicamente ganhou o título de “007 Nunca Mais Outra Vez”.

O terceiro James Bond da história do cinema e que teve o mesmo êxito de Sean Conery foi Roger Moore. Dando início a sua vida de agente em 1973 no filme “007 Viva e Deixe Morrer”. Moore fugia um pouco do padrão de Bond descrito nos livros de Fleming, com cabelo aloirado, pele queimada de sol e olhos azuis. Se o primeiro Bond não estava para brincadeiras, esse terceiro com certeza estava. Moore não tentou emular seu predecessor e sim criar seu próprio estilo. James Bond mais humorizado, fanfarrão, porém, fazendo o mesmo sucesso com as mulheres. Eram os anos 70, o mundo era diferente, as Bond girls menos encorpadas, as vestimentas menos sérias e os vilões um pouco mais caricatos. Foi nesta geração de filmes que começaram a existir bond girls negras, vilãs e mocinhas, a primeira foi Gloria Hendry. A era Moore angariou milhares de fãs ao longo de sete filmes. E mais uma vez, era hora do agente trocar de rosto.

O escolhido para ser o quarto James Bond foi Timothy Dalton em “007 Marcado Para Morrer” de 1989. Assim como aconteceu com Lazenby, o Bond de Dalton ganhou ar mais romântico. Diferente de seus antecessores, esse 007 sangrava, se machucava gravemente, era capaz de amar e se envolver o que apesar de todo o carisma e beleza do ator não conquistou grande parte do público, por isso, Dalton fez apenas dois filmes. Muitos se perguntavam se seria esse o fim de Bond. Felizmente a resposta veio em seguida e o bastão foi passado para Pierce Brosnan em “007 Contra Golden Eye” de 1995.

Pierce agradou aos fãs dos filmes originais contabilizando quatro filmes, foi considerado por muitos como uma amalgama do 007 de Sean Conery e Roger Moore. Sempre com classe e em controle da situação, mas ainda assim com toques de humor. Nesta nova geração de James Bond mais modernos foi quando as bond girls tiveram mais força e autonomia além da beleza, como Halley Barry. As mudanças não pararam por aí, foi quando M (chefe de Bond) passou a ser uma mulher, a consagrada Judi Dench. Pena que também marcou a aposentadoria do ator Desmond Llewelyn que interpretava Q (o criador das icônicos, instrumentos e carros de 007) desde a primeira série de filmes. E mais uma vez Bond precisava mudar de rosto, quem seria o próximo?

A última série de filmes de 007 até agora, ficou a cargo de Daniel Craig que também contabilizou quatro filmes, esses bem fechados, sendo um extremamente dependente do outro. O caso aqui é diferente das versões de todos os atores anteriores, ou se gosta do quarteto como um todo ou não. Mais uma vez tentaram um Bond mais fiel e romântico, só que finalmente o público comprou a ideia. Craig foi uma escolha bastante inusitada já que fisicamente não se assemelhava em nada ao personagem dos livros. Também não é humorizado como Moore e ainda tem o corpo muito maior e mais definido, já que estamos em um novo padrão de beleza dos anos 2000. As bond girls não tem mais tanta nudez, o romance está no ar e somos apresentados ao background do personagem, sua vida pregressa desde a infância. Esse é um James mais triste, atormentado e até mesmo Monepenny tem uma história inicial bem diferente para contar. Por hora, esse é o fim de James Bond. O que está por vir? James Bond Wiill Return!