Deserto Particular
Infelizmente, ‘Deserto Particular’ estreou nos nossos cinemas em novembro de 2021 e ninguém se importou. Na verdade, não se importar nem é o maior agravante, a pior coisa é ele ter sido lançado e ninguém saber que ele existe. Isso me chateia muito. A falta da valorização do nosso produto é gritante. Ele ganhou o Prêmio do Juri Popular em Veneza e foi o escolhido para ser o nosso representante nacional no Oscar. Caiu na fase preliminar, mas ainda assim foi uma boa escolha. Ainda assim ninguém sabe o que é.
Sinopse: “Daniel é um policial exemplar, mas acaba cometendo um erro que coloca em risco sua carreira e sua honra. Quando nada mais parece o prender a Curitiba, ele parte em busca de Sara, uma mulher com quem se relaciona virtualmente.”
Esse é daqueles filmes do tipo que é difícil falar dele sem entregar o grande plot da trama. Embora essa reviravolta aconteça pelo meio da história, ainda assim não seria legal revelá-lo. Dito isso, vou tentar me ater no sentimento que ele passou. O slogan dele já pode ser um pouco contemplativo: “uma história de amor em tempos de desamor”. Embora seja disso que a história se trate, ele não é nem um pouco convencional do que vemos por aí e é esse detalhe que o transforma em uma obra memorável.
Imagina a seguinte situação: a sua vida profissional foi virada do avesso, ninguém confia em você e ainda corre o risco de ser preso por seus atos; você possui um pai que não pode ficar sozinho, apesar dele ter uma irmã que o ajuda; e a única pessoa do qual ele tinha um contato a mais, simplesmente desaparece. Sendo essa última uma amiga virtual com o qual ele tem um sentimento a mais. Isso faz com que ele saia de Curitiba até a Bahia para tentar localizá-la e ter assim uma linda história de amor só pelo prazer de ter algo bom na sua vida.
Imagina a cabeça desse homem para fazer tamanha loucura e imagina como ficará sua cabeça quando o mistério do desaparecimento de Sara for resolvido. É aí que a história começa de verdade e é quando vemos o que o amor realmente representa. Nesse momento é quando as atuações se destacam demais e é quando ele vira um filme realmente diferenciado. Ficamos presos e de certa forma apreensivos de como as coisas vão se desenrolar.
Posso colocar muito dessa melhora na narrativa no colo do diretor Aly Muritiba (Tarântula). Ele sabe levar o longa muito bem e criar cenas incríveis que posso dizer que me marcaram bastante. Principalmente devido a força do roteiro que aborda um tema não convencional de uma forma mundana e humana. Tenho também que fazer um destaque para Antonio Saboia (Bacurau) e para Pedro Fasanaro (Onde Nascem os Fortes). Esse último ainda mais devido a complexidade do seu papel e como ele é doce repassando suas mazelas e seus sonhos.
Eu achei um filmaço e tenho recomendado ele para todos. Não acho que ele seja fácil de ser assistido e por isso é capaz de muitas pessoas não gostarem dele e achar minha dica furada. Mesmo assim mantenho minha recomendação. Prefiro que digam que não gostaram do que dizerem que nunca nem ouviram falar. Nosso cinema nacional é maravilhoso, pena que muitas obras ficam relegadas a um nicho, bem longe do público em geral que deveria reverenciá-lo.
‘Deserto Particular’ se encontra no catálogo da HBO Max.