Belfast

Eu tenho uma opinião que nunca expus nos meus textos, mas acho que essa é uma boa hora para isso. Sempre achei que gostar ou odiar um filme se forma por causa de várias variáveis. Entre elas temos as experiências de vida, temos o seu estado psicológico do momento, temos o seu humor, e por aí em adiante só para citar alguns fatores. Dito isso, eu quero dizer que Belfast mexeu demais comigo de um jeito que não acho que tenha mexido com as outras pessoas. Passei por experiências fortes recentemente e senti que o gatilho apertou forte aqui. Não de uma forma ruim, mas de uma forma que a saudade no peito apertou.

Sinopse: “Um jovem rapaz de nove anos terá de encontrar o seu caminho num mundo que, subitamente, se virou do avesso. A sua comunidade estável e carinhosa, e tudo o que ele aprendera sobre a vida, transformara-se para sempre; mas a alegria, o riso, a música e a magia inerente ao cinema permaneceram”

O filme é dirigido e roteirizado pelo Kenneth Branagh (Assassinato no Expresso do Oriente). Ele já fez coisas muito boas e também muito ruins quando esteve na cadeira de diretor. Belfast é um dos exemplos que posso dizer que são bons de sua carreira. O filme é parcialmente baseado na sua infância no fim dos anos 60. Com isso, temos o homem indo à Lua como pano de fundo e temos as emoções exaltadas entre protestantes e católicos que assombraram a Irlanda do Norte por um bom tempo.

Com esse background conhecemos Buddy, vivido por Jude Hill, uma criança ingênua e completamente amável que vê o seu mundo mudar devido as coisas que citei no parágrafo anterior. Ele é a alma do longa e posso dizer tranquilamente que ele leva o filme nas costas. Temos ótimos coadjuvantes, mas ele é o melhor de longe.

Através dele acompanhamos a mudança do mundo acolhedor que ele conhecia mudar drasticamente por causa de pensamentos religiosos conflitantes. Você quase acaba sendo obrigado a odiar alguém só porque ela pensa e age diferente de você. O pensamento dele perante tudo isso é muito lógico e chegamos a conclusão junto a ele que essa guerra não faz sentido.

A base familiar dele é importantíssima quanto a isso. Um pai e uma mãe que souberam criar ele da melhor maneira possível influencia ele a pensar da forma correta. Além dos avós que sempre dão conselhos incríveis para ele. Essa carga familiar toda é que me fisgou de uma forma bem abrupta. Quando menos percebi estava me debulhando em lágrimas devido a tudo que vinha deles: um conselho, uma decisão em família que vai mudar sua vida para sempre e até mesmo a perda de um dos membros dessa família. Tudo de uma forma muito tocante e pé no chão.

Por mais que amemos o lugar onde nascemos e crescemos, as vezes é necessário deixá-lo para trás e não olhar para o passado. Uma decisão que é dura, pois você deixa pessoas que amou para trás, em busca de um lugar com melhores condições. Lembrando também que o novo lugar talvez não te receba da melhor forma possível. Esse filme é sobre as pessoas que ficaram, sobre as que deixamos para trás e sobre as que perdemos no caminho.

Tecnicamente ele também é muito bom e dou destaque para a sua fotografia. Filme em preto e branco costuma ser uma covardia no quesito, pois é sempre maravilhoso. Por incrível que pareça Belfast foi indicado a 7 Oscars e fotografia não foi um deles. Entre essas indicações destaco a de Melhor Filme, Melhor Direção para Kenneth Branagh, Melhor Ator Coadjuvante para Ciarán Hinds(A Mulher de Preto) e Melhor Atriz Coadjuvante para Judi Dench (007 – Operação Skyfall).

Para encerrar, digo que é um filme excelente. Comovente e divertido retratando uma época que era calma e que logo viu o horror de uma guerra civil. Como ponto negativo cito somente o ritmo que ali pelo meio dá para perceber uma barriga, mesmo ele sendo um longa relativamente curto. Isso não me atrapalhou de modo algum, mas sei que isso pode atrapalhar a experiência de alguém. Como falei no início do texto, as variáveis é que acabam decidindo o gosto da obra sobre você.

Belfast estreia nos cinemas em 10 de março.