Destacamento Blood
Começarei um texto falando sobre Spike Lee. Um diretor que não tem perdão nenhum em tocar o dedo na ferida e te fazer se sentir desconfortável. Ele toca em assuntos como racismo e discriminação sem vergonha e sem se preocupar com o que vão achar. Responsável por “Faça a Coisa Certa”, “Malcom X”, e “Infiltrado na Klan”. Esse último sendo o meu favorito, e que ainda acho que deveria ter ganho o Oscar de melhor filme em 2019, perdendo para Green Book. Ganhou Oscar de Roteiro Adaptado, o que também é um excelente prêmio e mostra a força que o cineasta tem. Por que estou falando dele? Porque ele é simplesmente atual há pelo menos 30 anos e que pelo jeito continuará sendo.
Sinopse: “Destacamento Blood conta a história de 4 veteranos da guerra do Vietnã que lutaram juntos em 1971 e retornam ao país em busca de um tesouro por eles escondido, e do corpo de seu comandante e amigo Stormin’ Norman, vivido por Chadwick Boseman (Pantera Negra). Clarke Peters interpreta Otis, Isiah Whitlock Jr. é Melvin, Norm Lewis é Eddie e Delroy Lindo assume o papel de Paul, que é o grande destaque do longa.”
O longa conta com duas linhas de tempo diferentes. Conta o presente e conta o passado. Nesse momento é que acompanhamos o grande comandante Stormin’ Norman, vivido por Chadwick Boseman (Pantera Negra). Esse personagem que aparece pouco, mas que acaba sendo o centro da história. Com o seu pensamento protetor e visionário, consegue comandar um pelotão em que todos o amam e o respeitam, a ponto de fazer seu pelotão voltar mais de 40 anos depois para resgatar o seu corpo que teria ficado para trás durante a Guerra do Vietnã. Todas as motivações dos protagonistas levam a esse grande soldado.
Demorei um pouco pra entrar no filme, pois acredito que a cena logo no início (com os soldados chegando de helicóptero para proteger o avião caído) um pouco estranha. Ela me pareceu mal filmada, quando nitidamente percebemos os efeitos especiais e fiquei me perguntando se isso tinha sido proposital ou não. Me pareceu quase uma galhofa, o que me fez questionar se a cena era séria. Logo mais vimos que foi pra valer. Isso me fez pensar um pouco sobre o que eu estava vendo. Com o decorrer da película acabei me acostumando e enfim entrando de cabeça nos dilemas de cada personagem.
Esses dilemas são muito importantes porque mostram as motivações de cada um, não deixando nenhum dos protagonistas totalmente rasos, fazendo com que nos apegue a cada um deles. De todos eles, o mais complexo é o Paul, vivido por Delroy Lindo (O Nome do Jogo). Nós não sabemos se o odiamos ou se temos compaixão por ele. Todos os traumas que ele carrega são mostrados em tela durante toda a jornada vivida pelos heróis do título. O seu desprezo pelo filho, o seu ódio por vietnamitas, a gana de resgatar o corpo de seu amigo e o ouro enterrado com ele mostram todas as faces do personagem.
A violência mostrada no longa é bem visceral e chocante. Tanto mostrando imagens reais quanto mostrando cenas gravadas. Devo ter ficado de boca aberta por pelo menos umas 3 vezes, tendo visto tamanha sanguinolência. Alguns podem achar desnecessárias, mas acho que é aí que o diretor nos pega de surpresa e nos força a olhar. Temos a história principal, mas temos esses apanhados de fotos, vídeos e informações reais sobre a Guerra do Vietnã. Todas de fazer o seu estômago se revirar e se sentir mal.
Um dos motes da trama é também a busca pelo ouro. O que a pensamento bem simples pode ser a solução para muitos problemas. Mas como já nos foi ensinado por aí “quem tudo quer, nada tem”. Me senti a vontade para parafrasear só para poder ilustrar o que vemos em tela. Spike Lee, dessa forma consegue nos ensinar milhões de coisas em 2h35 de projeção. Nos faz pensar e refletir sobre acontecimentos do nosso passado e o quanto isso pode ser aprendido para não repetirmos.