Carcereiros – O Filme
Há alguns anos a Globo percebeu que sua programação estava cada vez mais perdendo audiência, acredito que muito em conta do YouTube e os serviços de streaming. Em busca de atrair esse tipo de público, ela resolveu investir pesado em um conteúdo mais sério e com produções mais elaboradas. Um desses projetos foi Carcereiros, uma nova série baseada em um livro de Drauzio Varella, que mostra a vida de um agente penitenciário dentro da prisão. Com 2 temporadas já produzidas pelo canal, ela resolveu alçar voos maiores e ir para o cinema com uma história com bastante tiroteio e bastante crueldade.
Sinopse: “Adriano é um carcereiro íntegro e avesso à violência, que tenta garantir a tranquilidade no presídio mesmo sofrendo com grandes dilemas familiares. A chegada de Abdel, um perigoso terrorista internacional, aumenta ainda mais a tensão no presídio, que já vive dias de terror por conta da luta entre duas facções criminosas. Agora, Adriano precisa enfrentar uma rebelião além de controlar todos os passos de Abdel.”
Foi com tristeza que fui ver o filme, pois nunca vi a série. Me entristece pelo fato de não ter um embasamento anterior para poder falar com aquela autoridade que todos respeitariam. Embora não tenha visto o material anterior, a história é bem entendível. Uma coisa ou outra que pincelam e que fez parecer que só quem viu a série vai entender a referência, mas no geral não precisa dessa carga. E fiquei na dúvida se todos os personagens são da série ou se esse elenco foi montado só para o filme, fico nessa sabendo por ser bem violento e se ainda terá uma nova temporada.
Parando de enrolação e voltando as atenções diretamente para o filme, lhes digo que ele é bem exagerado e ao mesmo tempo divertido, mesmo com algumas tentativas de serem surpreendente. A violência não é tão visceral, mas chega um determinado momento que é só tiroteio e não entendemos muito o que está acontecendo. Achei também a tentativa de reviravolta como uma mentira lavada na cara do público. Viu aquela sinopse ali em cima? Esquece. A parte realmente boa é quando traçamos os paralelos sociais da nossa realidade. A ala dos bandidos pobres que querem ganhar poder tentando matar os rivais, e a ala dos engravatados que também está ali e vemos como o tratamento é completamente diferente. A maior representação do que esse longa quer nos mostrar vem da seguinte frase soltada por um prisioneiro para um preso doleiro: “você é tudo de ruim que tem no nosso país, eu sou honesto, apenas matei minha mulher”. Está parafraseado, mas é isso aí. Todo esse paralelo comparando a prisão como um país é maravilhoso e também muito real.
As atuações estão todas na média, convincentes porém nada demais. Rodrigo Lombardi (Amor em Sampa) sendo nosso protagonista é bom, mas seu personagem super honesto nesse mundo se torna até caricato com o tamanho do problema que enfrentam aqui. Kaysar Dadour (que veio do Big Brother Brasil) não diz para o que veio, nem é culpa dele, mas esperava muito mais já que ele estampa o pôster junto com Rodrigo Lombardi. Rafael Portugal (do Portas dos Fundos) é sempre genial, até mesmo quando ele não faz comédia. Vê-lo fazendo um pastor dentro daquela prisão me fez ficar em dúvida se eu poderia rir ou não. O maior destaque fica para Rainer Cadete (Polícia Federal: A Lei é para Todos), no qual faz um dos líderes das facções do presídio. Sua participação é pequena, mas consegui sentir todo o seu medo, angústia e ódio, junto com a vontade viver. Excelente.
Meu veredito final resumido em uma simples frase seria “um bom filme, mas exagerado demais”, que o deixa em uma faixa mediana. Se gostou da série, é obrigação ir ao cinema vê-lo. Nem preciso frisar esse tipo de coisa mais. Caso não tenha gostado, mantenha-se afastado. Se for como eu que nunca viu, acredito que vale ver também. A produção é boa, mesmo que com algumas falhas, mas no geral acredito que o saldo é positivo.