Quem morava no Rio de Janeiro em 1998, com certeza se lembra do Palace II. O edifício foi construído no coração da Barra da Tijuca e seus apartamentos foram vendidos ainda na planta. Algumas pessoas sonhavam com a ideia de morar em um bairro praiano, luxuoso, que vinha crescendo, até que apareceu o Palace II a preços módicos, então o sonho se tornava realidade. Pena, que logo depois virou pesadelo. O documentário mostra lindas fotos do prédio e seus arredores, depoimentos de moradores que sobreviveram aos desabamentos e o desenrolar da história ao longo de 20 anos.

Temos cenas reais e marcantes da época, onde moradores choravam e gritavam revoltados com Sérgio Naya (empresário, engenheiro e político), que foi tido como responsável pela tragédia já que entregou imóveis que não estavam prontos. Este se defendia ao dizer que avisou aos futuros condôminos que o prédio não estava pronto, mas que mesmo assim eles quiseram as chaves.

Um documentário é bem sucedido quando nos causa interesse ao ponto de nos fazer querer conhecer mais sobre a história ali contada. Muitos apelam para o emocional, nos impactando, mas acima de tudo isso, eles tem que ser bem verídicos e neste caso, nos é contada apenas uma versão da história, a dos moradores que perderam bens matérias e entes queridos nos desabamentos e até hoje não foram integralmente ressarcidos, se é, que há como ressarcir alguém de tamanho trauma. Nos é apontado um suposto vilão  que morreu no meio da história ao ter um enfarte no ano de 2009 aos 68 anos.

Mas afinal, foi culpa de Naya? O que seus amigos, familiares e representantes têm a dizer sobre isso? Não temos como saber, já que o filme não nos conta essa outra versão.  Claro que eles podem não querer se pronunciar, mas ao nem mesmo serem mencionados, o documentário ganha um ar apelativo, nas cenas iniciais a história do edifício se assemelhou a do Titanic, o navio dos sonhos que se transformou em tragédia.

Independente de quem foi o culpado pelo desabamento, ou se o filme cumpre bem sua proposta, uma coisa é certa, a história do que aquelas pessoas passaram é algo terrível, nós já tínhamos esquecido, mas eles, não esquecerão jamais. Em algumas cenas reais, é possível ver a dor de quem perdeu esposa e filhos lá dentro. Tendo estas vítimas direito aos bens de Sérgio Naya ou não, o caso até hoje não foi encerrado em favor de ninguém, mostrando mais uma vez que o Brasil é o país da impunidade. Vale à pena assistir se você vivenciou a época, mas assim como aconteceu na vida, não espere uma conclusão, pois não está lá.

Fato interessante para quem ficar curioso, a construtora Calçada ergueu no local onde havia o Palace II, um prédio com o nome Barra One que contem 180 apartamentos.