Victoria e Abdul
Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha (Victoria & Abdul)
Eua, Reino Unido, 2017.
Direção: Stephen Frears
Com: Judi Dench, Ali Fazal, Tim Piggot-Smith, Eddie Izzard, Olivia Williams, Paul Higgins.
Stephen Frears virou um especialista em retratar mulheres idosas, poderosas e convictas mas seu interesse não se baseia propriamente na história delas e sim na forma como ele acredita que estas senhoras sentem e reagem a determinados eventos. “A Rainha” (2006), “Sra. Henderson Apresenta” (2005), “Philomena” (2013) e Florence Foster Jenkins (2016) são bons exemplos de como sua narrativa manipula estes personagens de forma incontestável.
Em “Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha” (Victoria & Abdul no original), Frears faz o mesmo movimento desta vez usando como pano de fundo uma possível amizade entre a Rainha Vitória (Judi Dench) e o funcionário público indiano Abdul Karim (Ali Fazal) designado, por acaso, para a entrega de uma moeda comemorativa para a celebração dos 50 anos de seu reinado em 1887 e promovido ao seu “Munshi” (professor em hindu).
A narrativa é clássica e linear com uma impecável produção de arte sempre pontuada pela correta trilha de Thomas Newman (“A Ponte dos Espiões”) que está ali apenas como decoração artística. O que interessa a Frears, mais uma vez, não são os fatos históricos ou a importância política que a Índia ocupava para o Reino Unido no final do século 19. O diretor foca na relação platônica entre a octogenária Victoria e o gentil e dedicado Abdul, entretendo o espectador com seus passeios, suas conversas, suas confidencias e suas fraquezas.
Mais uma vez Frears apenas sublinha a emoção acompanhando o passo a passo de uma história agradável retornando ao universo de uma idosa que deseja resgatar algo perdido em sua memória, mas “Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha” consegue dar um passo além quando arranha, ainda que levemente, uma discussão sobre a mulher no poder. Em uma seqüência específica, Victoria é ameaçada pela fúria da corte que via em Abdul uma iminente ameaça hierárquica. Nesta cena, Judi Dench consegue transmitir como uma das mulheres mais poderosas do mundo pode se tornar impotente diante da ganância e prepotência masculina. Seu discurso dá a dimensão exata dos podres poderes da Real Corte Inglesa que via em Victoria apenas uma figura decorativa entupindo seu cotidiano com jantares e convenções desnecessárias e fúteis.
Infelizmente Frears não consegue concluir o assunto e interfere na história com seu espírito manipulador e calculista deixando o público de mãos vazias. Mesmo assim “Victoria e Abdul” têm charme suficiente para cativar a atenção do espectador e uma atriz estupenda em estado de graça.