TOC: Transtornada, Obsessiva e Compulsiva

O público brasileiro é louco por comédias recheadas de humoristas e astros televisivos. As bilheterias estão aí para comprovar esta afirmação. Talvez, apenas os blockbusters norte-americanos de heróis ameacem um pouco esta liderança. Assim, por vezes, é necessário ousar para driblar a concorrência, conquistar uma fatia maior de espectadores e lucrar. Sim, estou falando de lucro, pois, no fundo, está é a única garantia de que a roda continuará girando e novos filmes serão produzidos. Dentro deste objetivo, o trailer de “TOC: Transtornada, Obsessiva e Compulsiva”, estrelado por Tatá Werneck, cumpre bem a missão. Ele fisga a atenção de quem o assiste. Até o crítico mais ranheta será obrigado a confessar que o filme parece interessante e tem algo de diferente. E isto é verdade. O problema é que, em meio a ousadia a que ele se propõe, os velhos erros de sempre, que assombram o cinema nacional, são repetidos exaustivamente.

 

Dirigido e roteirizado pela dupla Paulinho Caruso e Teodoro Poppovic, o longa começa com imagens de um mundo pós-apocalíptico, no melhor estilo “Mad Max”. Nele, uma menina (Laura Neiva) é perseguida e encurralada. Prestes a ser capturada, ela é salva por um herói misterioso. Ou melhor, uma heroína. Até aí tudo bem. A tensão é digna de um obra deste gênero. Contudo, este ato inicial termina de forma engraçada. Não, não dá para contar. Seria spoiler e vocês ficariam chateados com este crítico. A mudança de tom se explica por tudo não passar de um sonho da atriz Kika K (Tatá Werneck). Estrela de um folhetim em uma grande emissora de TV, ela quer o papel de protagonista da próxima novela do horário nobre: “Amorgedon”. Sua rival é Ingrid Guimarães, que num curioso exercício metalinguístico interpreta a si mesmo. Contudo, esta não é a única preocupação da personagem.

 

Longe dos  olhos do público, ou não tão longe assim, Kika K namora Caio (Bruno Gagliasso), seu par romântico no folhetim. A relação deles não passa por um bom momento. Ele só pensa em sexo, ela nem tanto. A protagonista tem ainda outro sonho: escrever um livro e mostrar para os seus fãs que não é só mais uma personalidade fútil. O que a atriz não imagina é que seu desejo está prestes a ser realizado da pior forma possível. Sua empresária, Carol (Vera Holtz), contratou um ghost writer sem o seu conhecimento e a obra já está pronta para ser lançada. Forçada a participar de uma sessão de autógrafos, sua vida dará uma guinada ao conhecer Vladimir (Daniel Furlan), um vendedor da FNAC com quem viverá uma paixão que lembrará um pouco a do filme “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999), e uma misteriosa figura.

 

Se abandona, por motivos justificáveis, a temática pós-apocalíptica logo no início, a dupla de diretores, que estreia no comando de um longa-metragem, investe em uma inusitada pegada de vídeo-clipe. Diversas vezes, quando menos esperamos, somos surpreendidos por imagens que mais parecem saídas da “MTV”. E elas não foram inseridas aleatoriamente, o que poderia levar este recurso a um desgaste precoce. Não. Eles foram utilizadas de forma a ressaltar momentos de ebulição da película. Além disto, esta é uma comédia com muitas cenas onde é possível rir com gosto e um aprofundamento psicológico da personagem que raramente vemos por aqui. Kika K está em uma fase de questionar suas escolhas e o rumo que sua vida tomou. Estes questionamentos geram uma excelente cena ao som de “Ouro de Tolo”, de Raul Seixas.

 

O principal problema de “TOC” reside, justamente, em uma questão que diretores estreantes, sem o vício típico do cinema tupiniquim, poderiam ter evitado: O excesso de piadas de baixo calão e referências fálicas. Todas as cenas envolvendo o ótimo ator Bruno Gagliasso são de um mau gosto terrível. O fato do seu personagem ser praticamente um ninfomaníaco não serve de justificativa. Sexo e corpos nus podem ser mostrados, desde que contextualizados e com um propósito definido, do jeito que acontece, por exemplo, em “Praia do Futuro” (2014) ou “A Criada” (2016). Já palavrões, ao meu ver, é falta de criatividade ou de boa vontade na hora de escrever o roteiro.A menos, claro, que tenhamos voltado a era das pornochanchadas. Rabugentísse deste crítico? Quando a própria protagonista comenta que não está acostumada ao excesso de palavrões, acho que não.

 

Desliguem os celulares e boa diversão.

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