Estrelas Além do Tempo
Quando você ouve a palavra “computador”, o que vem à mente? Uma máquina, certo? Mas antes de máquinas como as que temos hoje em dia existirem, a necessidade de fazer cálculos poderosos já se fazia presente – principalmente em polos tecnológicos como a Nasa. “Estrelas além do tempo” conta de uma forma fascinante as histórias de três computadores humanos da agência espacial americana: Katherine G. Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson.
O contexto em que as protagonistas vivem é complicado, além de injusto e sofrido. Enquanto o estado da Virgínia (onde se passa o filme) estava sob a vigência das leis “Jim Crow”, que faziam a discriminação racial ser legalmente permitida, uma ordem executiva de 1941 proibia essa mesma discriminação na contratação de mão de obra no setor de Defesa dos EUA. Ou seja: as computadoras eram contratadas, sim, pela Nasa, mas apenas para fazer a parte mais mecânica da matemática – com salários mais baixos do que eles ganhariam -, “liberando” os homens para trabalhos mais conceituais.
Quando Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson, “Empire”) é chamada para conferir os cálculos dos engenheiros encarregados com a ida do homem à Lua, o público consegue ver como o espaço de trabalho era segregado: a matemática precisava andar um quilômetro e meio só para ir ao banheiro, por exemplo, e era excluída pelo resto da equipe. Já a luta de Mary Jackson (Janelle Monáe, “Moonlight: Sob a Luz do Luar”) é principalmente nos tribunais, pelo direito de estudar em uma escola segregada matérias que eram pré-requisito para entrar no programa de treinamento para engenheiros da Nasa. Ambas fazem parte da equipe Dorothy Vaughan (Octavia Spencer, “Histórias Cruzadas”), que assumiu o cargo de supervisora das computadoras quando a antiga se aposentou. Além de batalhar para ter o título e o salário correspondentes ao trabalho que faz, Dorothy ainda busca salvar as computadoras de perder o emprego quando os computadores eletrônicos da IBM chegam ao centro de pesquisa.
Além das talentosas protagonistas, a produção tem atuações de alto nível de Kevin Costner (“Dança com Lobos”, “Robin Hood”), Kirsten Dunst (“Maria Antonieta”), Jim Parsons (“The Big Bang Theory”) e Mahershala Ali (“House of Cards”). Mas o melhor aspecto é o roteiro, que retrata a coragem das heroínas ao lidar diariamente com microagressões sofridas tanto por serem negras quanto por serem mulheres. Ele é uma adaptação feita por Allison Schroeder e Theodore Melfi (que também dirige o filme) do livro da pesquisadora Margot Lee Shetterly, cujo pai trabalhou com as computadoras. Somados à bela fotografia e a uma trilha sonora com destaques da música negra na década de 1960, esses elementos criam uma narrativa envolvente sobre essa parte da história que, até então, tinha sido apagada.
Na minha opinião, todos deveriam assistir – não apenas porque é muito bom, mas porque é uma história que precisa ser conhecida.