Desculpe o Transtorno
Desculpe o Transtorno ganhou a atenção do Brasil três dias antes da estreia, quando Gregório Duvivier usou o espaço na coluna que tem na Folha de S. Paulo para fazer uma carta aberta à ex, Clarice Falcão, com o nome do filme no título. As belas palavras de amor foram uma bela jogada de marketing, já que os dois interpretam o casal protagonista da história. Ele é Eduardo, que sofre com transtorno de dupla personalidade, e ela é Bárbara, uma carioca que faz jus ao nome. O triângulo amoroso que estampa o pôster é completado por Dani Calabresa, a namorada de longa data de “Edu”, a personalidade paulista do personagem de Duvivier.
A história se desenrola a partir da morte da mãe do protagonista, que ficou no Rio de Janeiro após se divorciar do pai dele, interpretado por Marcos Caruso. Eduardo seguiu o pai na vida e na carreira: quinze anos depois, estava trabalhando na empresa de registro de patentes do velho em São Paulo. Metade desse tempo, passou com a personagem de Dani Calabresa, o resumo mais detestável que os roteiristas conseguiram criar de futilidade e chatice. Quando vai ao Rio para o resumo da mãe, “Duca” toma conta de Eduardo e mete o protagonista em adoráveis confusões dignas de Sessão da Tarde.
Duca logo conhece Bárbara, que entende e aceita de cara o fato dele ser “o outro” – porque Bárbara é uma cool girl. Quem já viu (ou leu) Garota Exemplar talvez lembre do monólogo da protagonista amy sobre as cool girls, mas como ninguém é obrigado a saber de nada, segue um resumo: a cool girl é “um dos caras”, mas é maravilhosa e gostosa; ela sempre está lá pelo homem dela, sem exigir nada em troca, nunca; tem amigos (e faz amigos) com muita facilidade, porque não tem frescura. Apesar de ter o coração partido várias vezes por um cara que acabou de conhecer (nesse quesito, o filme tem uma pegada de comédia romântica), Bárbara persiste. Afinal, ela só está lá para despertar o melhor no Eduardo.
O embate entre os dois Eduardos reflete a visão carioca sobre a eterna rivalidade Rio x São Paulo, o que arrancaria risadas por si só. Alguns clichês, como a luta física das duas personalidades do protagonista, seriam dispensáveis. Mas os humoristas Júlia Rabello, Marcos Veras, Marcus Majella e Rafael Infante (quatro ex-Porta dos Fundos, como o casal Duvivier-Falcão) e Zezé Polessa numa participação especial (e subaproveitada) fazem valer o preço do ingresso. Além da comédia, uma reflexão é proposta ao público: estamos realmente fazendo as escolhas que nos deixariam mais felizes, ou apenas seguindo o fluxo?
Por Katharina Farina